Quem és tu, Domingos de Gusmão?
Existe um frade dominicano que tem por profissão ser
pregador e professor. Mas em suas férias gosta de realizar outras atividades. Ele esculpe madeiras em uma oficina rústica e
improvisada que fica em um antigo estábulo, na casa onde nasceu.
Nas férias passadas fez uma escultura para sua comunidade.
Alguns de seus conterrâneos o visitam com frequência em sua oficina quando está
em pleno trabalho e mostram suas reações perante os acertos e erros do artista.
Quando viram a escultura terminada, uma espécie de monge usando uma franjinha,
todos comentaram: “Veja como ficou bonito este São Francisco!”. Ao artista,
este comentário lhe pareceu doce e amargo ao mesmo tempo. Doce porque
reconhecia o valor artístico da obra e amargo pois sua intenção não era
esculpir a São Francisco de Assis. Ele queria esculpir a São Domingos de
Gusmão. De fato, havia se inspirado nessa famosa imagem chamada “Il vero volto”(a
verdadeira face).
Que culpa tinham aqueles visitantes da oficina que São
Domingos seja tão pouco conhecido? Ou, quem tem a culpa do anonimato de São
Domingos, se é que vale a pena ficar buscando culpados a respeito desses
assuntos? O fato é que São Domingos é praticamente um desconhecido fora da
família dominicana, inclusive às vezes dentro. Passem por uma livraria
religiosa. Investiguem quantas biografias há de São Francisco, de Santa Teresa,
de Santo Inácio, etc., e deem-se por satisfeitos se encontrarem uma sobre São
Domingos de Gusmão.
Este descuido parece ter marca de origem. Já advertia
Jordão de Saxônia, primeiro sucessor de Domingos como mestre da Ordem dos
Pregadores. Era ainda o século XIII quando a Ordem acabava de nascer. Pois bem,
Jordão já se queixava de que os frades não eram bom propagandistas de seu
fundador. O que faziam era ocultar sua glória, nesse caso, sua santidade. “E
assim permaneceu como que adormecida e sem nenhuma veneração de santidade,
quase que por um espaço de dose anos, a glória do bem aventurado Padre São
Domingos (Jordão de Saxônia). Pecado de omissão dos frades? Certamente, os
dominicanos nunca foram dados a cultivar as glórias de seu fundador. Parece que
preferem a fraternidade à filiação.
Mas por parte dos frades não era pura indolência o pecado
de omissão. Tinham suas razões para não soltar aos quatro ventos brados sobre a
santidade de São Domingos. Se a fama do santo fosse muito difundida e sua
devoção aumentada, “temiam que a ordem fosse perturbada pela grande multidão de
pessoas e que alguns dissessem que era por causa da ganância e da ostentação
que os frades permitiam que a fama do santo fosse difundida” (Fr. Ventura de
Verona). Preferiam o silêncio contemplativo do claustro, verem-se livres da
ganância que ronda o culto e manterem-se humildes. São razões que fazem-nos
pensar, ainda que sejam discutíveis. Muito se fala sobre o fervor das primeiras
comunidades dominicanas.
O fato, contudo é este: Domingos de Gusmão permanece no
anonimato, é quase um desconhecido fora da família dominicana.
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