Aspectos sobre a vida comunitária tratados nos Capítulos Gerais da Ordem*
Comunidade, democracia e
espiritualidade
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1.Antes de tudo, irmãos
caríssimos, amemos a Deus e também ao próximo, pois estes são os dois
principais mandamentos que nos foram dados. É isto que vos mandamos guardar, a
vós que viveis no mosteiro.
Em primeiro lugar, foi
para isto que vos reunistes em comunidade: para que habiteis unânimes na mesma
casa, tendo uma só alma e um só coração em Deus. E não digais “isto me
pertence”, mas, para vós, tudo seja em comum. O vosso superior distribua a cada
de vós o alimento e a roupa, não de modo igual para todos – pois não tendes
todos forças iguais -, mas, antes, a cada um segundo a sua necessidade. Com
efeito, ledes nos Atos dos Apóstolos que entre
eles tudo era comum, e distribuí-se a cada um conforme a necessidade que
tivesse (At 4,32.35).
8.Conceda o Senhor que
observeis tudo isto com agrado, como amantes da beleza espiritual, exalando em
vosso comportamento o bom odor de Cristo, não como servos sob o peso da lei,
mas como homens livres sob a força da graça. Mas, para que possais ver-vos
neste pequeno livro como num espelho e nada se deixe de cumprir, por
esquecimento, leia-se uma vez por semana. E se vedes que cumpris todas as
prescrições aqui apresentadas, dai graças a Deus, distribuidor de todos os
bens; se, porém, algum de vós reparar haver falhado em alguma coisa, lamente o
passado, precavenha-se para o futuro, rogando a Deus lhe perdoe a sua falta e
não o deixe cair na tentação. Amem.
(Regra de Santo
Agostinho, nn. 1a, 1b e 8)
Da
vida comum
2 - § I – Conforme nos
adverte a Regra, o que em primeiro lugar nos levou a congregar-nos em
comunidade foi para vivermos unânimes em casa, com uma só alma e um só coração
em Deus. E esta unidade alcança a sua plenitude, para além dos limites do
Convento, na comunhão com a Província e com toda a Ordem.
§ II – A unanimidade da
nossa vida, enraizada no amor de Deus, deve testemunhar a reconciliação
universal em Cristo, pregada com a nossa palavra.
4. § I – Para que cada
convento constitua uma comunidade de irmãos, todos devem aceitar-se e
estimar-se mutuamente como membros do mesmo corpo, distintos, sem dúvida, pela
sua índole e ofício, mas iguais no vínculo do amor e da profissão.
§ II – Conscientes da
sua responsabilidade para com o bem comum, os irmãos aceitem, de boa vontade,
os cargos no convento e prestem-se gostosamente a substituir os outros em
qualquer tarefa, e a ajudar os que vejam mais sobrecarregados.
17. § I – No início da
Ordem, S. Domingos pedia aos seus irmãos lhe prometessem comunidade e
obediência. Ele próprio se submetia humildemente às disposições e, sobretudo,
às leis que, com deliberação, o Capítulo Geral dos irmãos promulgava. Mas, fora
do Capítulo Geral, exigia de todos a obediência voluntária, com benignidade,
sem dúvida, mas também com firmeza, nas coisas que ele mesmo, no governo da
Ordem, ordenava, depois de uma conveniente deliberação. Na verdade, uma
comunidade, para permanecer fiel ao seu espírito e à sua missão, necessidade do
princípio da unidade, que se obtém pela obediência.
(LCO, nn. 2, 4 e
17)
2.3.7 É ilusório
acreditar que a questão da afetividade e da vida comum encontra a sua solução
na formação de “comunidades homogêneas”, constituídas por cooptação a partir de
sensibilidades comuns. Tais comunidades negam a necessária alteridade e o indispensável
pluralismo que fazem a riqueza de nossas comunidades dominicanas.
(Capítulo Geral
do México, 1992)
“Esta diversidade dos
frades é a força de nossa Ordem, e sua alegria. Na Ordem, os mundos tanto de
referências como os culturais, compreendendo também os eclesiais e os
teológicos, são diversos. Nossa vocação é a de fazer que esta diversidade seja
lugar de emergência e de partilha do Evangelho entre nós, na estima mútua de
uns pelos outros em suas diferenças e particularidades, sem condições preambulares,
mas sim acolhendo a graça de ter tê-los todos por irmãos e de partilhar com
todos eles uma mesma missão. Através desta diversidade, a Luz do Evangelho da
verdade se faz sempre mais viva, afirma-se como um dom da alegre liberdade que
nos faz livres, e nos conduz à unanimidade. É deste modo que nosso desejo de
nos tornarmos pregadores da graça para a humanidade inteira nos conduz a querer
viver a graça da fraternidade”.
(Frei Bruno
Cadoré, OP. “Carta de Promulgação”, Capítulo Geral de Roma, 2010, pp. 6-7)
“54.As relações entre
vida fraterna e atividade apostólica, em particular nos institutos dedicados às
obras de apostolado, não têm sido sempre claras e não raramente têm provocado
tensões, tanto na vida particular como na vida em comunidade. Para alguns, o
“fazer comunidade” representa um obstáculo para a missão, quase um perder tempo
em questões, afinal, secundárias. É necessário lembrar a todos que a comunhão
fraterna, enquanto tal, já é apostolado, isto é, contribuiu diretamente para a
obra de evangelização. De fato, o sinal por excelência deixado pelo Senhor é o
da fraternidade vivida: ‘Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se
vos amardes uns aos outros’ (Jo 13,35)” (...).
55.A comunidade
religiosa se, enquanto cultiva em seu seio a vida fraterna, tem presente, de
forma contínua e legível, esse “sinal” do qual a Igreja tem necessidade
sobretudo na tarefa da nova evangelização.
(“A vida fraterna em
comunidade”, documento da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada a
as Sociedades de Vida Apostólica)
A
vida fraterna em comunidade
“Começo por este ponto
que tratei brevemente na homilia final, como o recordarão. Através de nossa
resposta ao chamado de Jesus, temos formado uma comunidade nova, que não provém
da ‘carne nem do sangue, nem de desejo humano, mas de haver nascido de Deus”,
uma fraternidade que está fundada e se constitui por nossa solicitude em fazer
a vontade do Pai. Naquela homilia, dizia isto a propósito da possível união das
entidades. Agora o reitero como um pensamento que deve guiar concretamente suas
reflexões e buscas, não só em ordem à unificação das entidades, mas também para
revisar e fortalecer a vida das comunidades.
Devemos procurar e
cultivar esta fraternidade quotidianamente, não só como mero desejo ou
sentimento vago de pertença a uma Ordem, para o qual é conveniente,
evidentemente, encontrar e estabelecer as formas apropriadas. Sei que isto é
difícil em um país tão vasto e, além do mais, estando todos comprometidos com
tantas tarefas apostólicas. Entretanto, quero assinalar este ponto que é
capital para manter uma presença vigorosa e contínua, como quase sempre o
requer a missão mesma, sem cair no individualismo. Falamos muito sobre este
perigo, às vezes o próprio compromisso apostólico não nos permite vê-lo, o qual
pode acabar quando menos o pensamos até com nossos próprios compromissos, por
esgotamento espiritual e humano, não digamos já com os compromissos que, como
Ordem, são assumidos por todos. Pensem concretamente como, às vezes, os ônus
para esta ou aquela atividade importante, as mudanças necessárias e a
disponibilidade para assumi-los tornam quase impossíveis e geram um estancamento
que provoca desânimo.
Levando, pois, em
consideração a condição de cada um, sua própria história, as circunstâncias de
cada comunidade, a índole dos compromissos apostólicos, peço aos superiores
locais e das entidades e a todos vocês que vejam a maneira de fortalecer os
vínculos fraternos de colaboração entre irmãos e comunidade, que, na hora de
examinar a missão da Ordem no Brasil, tenham em conta este ponto que é
fundamental em nossa vida”.
(Carta do Mestre
da Ordem frei Timothy Radcliffe, de conclusão de sua visita ao Brasil, datada
de 31 de julho de 1996)
“Partilha
fraterna
120.A partilha fraterna
deve acontecer em três níveis: afetivo, das tarefas comunitárias e econômico.
121.A nossa afetividade
se exprime pela confiança mútua, pela aceitação do irmão como ele é e pela
valorização dos talentos pessoais.
122. A partilha
fraterna requer que cada um assuma, com disponibilidade e generosidade, as
tarefas necessárias para que a comunidade se estruture eficientemente.
123. Que cada
comunidade promova, nas reuniões conventuais, a prestação de contas das
entradas e saídas, e, a partir destes dados, reflexão sobre o voto de pobreza.
Da
unidade institucional para a unidade de corações
124.A fim de se passar
da unidade institucional para a unidade de corações, a disponibilidade dos
frades em participar na revisão dos quadros conventuais é de fundamental
importância.
125.Em se tratando da
primeira assinação de um jovem religioso, cuide-se que o recém-assinado possa
integrar-se na vida da sua nova comunidade e seja acompanhado no seu
crescimento humano e religioso.
Saúde
e aposentadoria
126. Que todos os
frades após a sua primeira profissão sejam integrados num plano provincial de
saúde e inscritos no INSS.
127. Cada comunidade
cuide do seu planejamento comunitário, para que todos os frades tenham
anualmente um período de férias.
128. Ao completar 70
anos de idade, o religioso replaneje com o Provincial o
ritmo das suas atividades.
(Atas do I
Capítulo Provincial da Província “frei Bartolomeu de las Casas” – 1998)
Vida
Comum
23.EXORTAMOS a todos os frades a não deixarem de estudar e aprofundar
as Atas deste Capítulo, individual e comunitariamente.
A vida comum, inspirada
na forma apostólica de vive-la, faz parte da natureza da vida consagrada e do
modo de viver adotado por S. Domingos, guardando os elementos da vida
dominicana que devem estar interligados em vista da Pregação: vida fraterna,
estudo e oração (cf. LCO 1§ IV). EXORTAMOS
que a vida comum, com base na partilha, corresponsabilidade e fraternidade,
seja o fundamento da convivência de cada comunidade e da Província como um
todo, como exigência de nossa própria vida e missão.
24.ORDENAMOS que, em espírito comunitário, tanto a Província como cada
Convento ou Casa façam o seu planejamento no início do ano, conforme prescrevem
as nossas Constituições (cf. LCO 107 e 311 § 1), e em atendimento às
recomendações dos últimos Capítulos Gerais e às prescrições do Mestre da Ordem,
presentes na carta conclusiva da visita canônica feita à nossa Província em
2008.
25.Em nossa Província
constatamos um avanço do individualismo: alguns não partilham os seus ganhos
com a comunidade, gerando insegurança e desconfiança. EXORTAMOS a todos a observarem o voto de pobreza, colocando tudo
aquilo que ganham em comum (cf. LCO 538 § 2; Atas do III Capítulo, de 2006, n.
154).
26.ORDENAMOS que as nossas comunidades, pelo menos uma vez por mês,
façam as suas reuniões, para que, em diálogo fraterno, explicitando também o
que há de positivo em cada irmão, planejem e revejam as suas atividades
comunitárias e apostólicas, tendo sempre algum tema para reflexão e estudo.
27.RECOMENDAMOS que nossa fraternidade nos leve: a ter maior
entrosamento entre as comunidades mais próximas; a ser mais afetuosos com todos
os irmãos, especialmente os idosos e doentes, visitando-os e dedicando-lhes o
devido cuidado.
28.A oração, base de
toda a vida cristã, é exigência absoluta da nossa vida consagrada e dominicana.
29.EXORTAMOS as nossas comunidades, por pequenas que sejam, a fazerem
boa programação de sua oração e liturgia;
30.EXORTAMOS que cada comunidade encontre o seu modo de ter uma
liturgia eucarística, experimentada como centro de suas vidas e motivação para
a evangelização (cf. LCO 105 § IV).
31.LEMBRAMOS que negligenciar a oração pessoal significa arrefecimento
da vida comunitária e da própria missão. “Todos os irmãos dediquem pelo menos
meia hora à oração mental” (LCO 66 § II).
*Compilação de frei André Tavares, OP
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