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quinta-feira, 15 de novembro de 2012



Homenagem póstuma a
um futuro Santo do Sertão

Frei Lourenço M. Papin, OP
Da Equipe de Colaboradores

Há pessoas que deixam marcas indeléveis e tantas vezes questionadoras em nossas vidas e a quem devemos gratidão para sempre. Entre as tantas com quem cruzei pelos caminhos da vida, há uma cuja “lembrança é uma forma de encontro”, no dizer do escritor árabe Kalil Gibran.
Seu nome é Dom Alano Maria du Noday, já falecido há alguns anos.
Pertencia a uma família nobre francesa. Foi alto oficial do exército francês na Primeira Guerra Mundial, chegando a substituir, numa batalha, o general comandante ferido.
Tornou-se sacerdote dominicano no dia 04 de agosto de 1928 no centenário convento de Saint Maximin no sul da França. Na década de trinta veio para o Brasil, residindo no Rio de Janeiro onde desempenhou importante trabalho de Pastoral Universitária que daria origem, mais tarde, à Pontifícia Universidade Católica dessa cidade.
Em 1936, o Núncio Apostólico no Brasil, Dom Aloísio Masela, o chama e lhe pergunta: “Está disposto a realizar a vontade de Deus e da Igreja”? Respondendo que essa era a sua vocação, recebeu a notícia: “O Papa Pio XII acaba de nomeá-lo Bispo de Porto Nacional”, na época pertencente ao Estado de Goiás.
Veio, então, para o sertão goiano suceder a um santo bispo missionário dominicano, Dom Domingos Carrerot, primeiro Bispo de Porto Nacional.
Num estilo de vida austera, enfrenta a dureza agreste de uma imensa diocese que abrangia todo o Norte Goiano.
Foi um bispo caminheiro, missionário, apóstolo e herói de uma Igreja carente de tudo, humilde e desconhecida.
Por longos anos, a cavalo ou a pé, cruzou todo sertão goiano de Arraias a Tocantinópolis, já na região amazônica.
Seu primeiro milagre foi a formação de sacerdotes da própria terra. Vinte e sete sacerdotes ele preparou para sua imensa Diocese, a única no Brasil que podia alegrar-se de possuir um clero autóctone, ou seja, vindo todo do meio de seu próprio povo.
Sua felicidade maior foi ter anunciado o Evangelho a todo sertão. Ele plantou comunidades que floresceram em paróquias que acompanharam e fomentaram o desenvolvimento do Médio e Norte Goiano. Como fruto de seu trabalho pastoral surgiram três Dioceses: Tocantinópolis, Miracema do Norte e Cristalândia.
Alguns flashs interessante de sua vida:
A cavalo ou a pé, sempre viajou carregado de livros: era atualizado, homem de grande cultura sobretudo bíblico-teológica e filosófica. Às vezes, porém, acontecia que na sua mochila, ao invés de livros encontrava alimentos para a viagem... Era uma delicada artimanha das irmãs dominicanas de Porto Nacional, preocupadas com a saúde do bispo.
Todas as manhãs fazia sua meditação lendo trechos do Novo Testamento em grego, língua que ele conhecia perfeitamente.
Nunca voltou à França para rever os parentes e nem para fazer suas viagens a Roma (“ad limina”) a que tinha direito, porque dizia: “devo economizar dinheiro para comprar sapatos para os meus seminaristas”.
Nunca quis um carro, respondendo a quem o interpelava: “Não quero jogar poeira no rosto de meus filhos”.
Graças a Dom Alano, o famoso Brigadeiro Eduardo Gomes (seu amigo pessoal) sentiu-se incentivado para o pioneirismo do correio aéreo militar do Rio de Janeiro até Belém do Pará, passando pelo Norte Goiano.
O Brasil manifestou-lhe gratidão, condecorando-o com sua mais alta comenda: “A Ordem do Cruzeiro do Sul”.
A França soube admirá-lo como filho, outorgando-lhe a comenda da “Legion d’honeur”, no grau de “chevalier”.
Quando, em 1978 completou 50 ano de sacerdócio, a Igreja o enalteceu com uma comovente carta pessoal do papa Paulo VI onde está escrito: “Considerando a egrégia obra que realizaste no Brasil, nós te saudamos como missionário de nossa época, digno de todo louvor, zeloso pregador do Evangelho no Estado de Goiás e sábio modelador do Povo de Deus”.
Num gesto de humildade e desprendimento, renunciou à sua Diocese, em 1976, para tornar-se humilde pároco na cidade de Campos Belos, hoje no Estado de Tocantins, a mais de 400 km de Porto Nacional.
Diante de uma atitude de injustiça cometido pelo Estado contra o professorado goiano, renunciou à comenda de “A Ordem do Cruzeiro do Sul”!
Atendendo seu pedido, a Santa Sé nomeou seu sucessor o dominicano santa-cruzense Dom Celso Pereira de Almeida que hoje se encontra na cidade de Goiás-GO*, como bispo emérito.
A causa de sua beatificação, ainda que tardiamente, está sendo introduzida pela Diocese de Porto Nacional. Tenho comigo a certeza de que logo teremos um santo do sertão a quem sinto o dever de prestar minha homenagem póstuma e minha antecipada veneração.
Dele assim falou Dom Fernando Gomes dos Santos, falecido arcebispo de Goiânia: “Aí está um homem feliz, porque um bispo livre e libertador, sem compromissos com ninguém senão com Deus e a sua Igreja”.


* Atualmente, D. Celso Pereira de Almeida, OP se encontra em Uberaba, MG, onde é superior na casa do noviciado da Província Frei Bartolomeu de las Casas.

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