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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013


Por que e para que um pré-noviciado*



A porta
O que busca, o que quer um jovem que bate às portas de um convento dominicano?
É difícil saber, sendo que este jovem vem de um mundo tão plural, tão confuso e, com frequência, tão resistente a tudo que vá além do imediatismo. Por isso se supõe que quem chega até a porta planejou algo baseado em Jesus Cristo que até hoje arrasta, seduz e convida, mas envolto em uma nuvem que quem sabe necessite de luz para conhecer o que há por detrás dela. Por isso, a chamada deste desconhecido pode se fazer desconcertante para quem abre a porta; esta permite ou impede a entrada em uma casa e, ao abri-la, há que se fazer com um sentimento de acolhida, mas não isenta de precaução. Isso porque não se pode convidar ninguém a fazer parte de uma comunidade sem antes saber suas reais intenções. É como dizer: vamos nos conhecer, e pode ser que este conhecimento nos ajude a discernir que vivemos uma mesma fé e uma mesma maneira de entender a vida ao serviço do Evangelho, ou seja, com as características dominicanas. Ou, quem sabe, se chegue a conclusão de que as intenções de quem bate à porta não são as mesmas de quem a abriu.

O claustro
Os conventos clássicos dominicanos dispunham de um claustro, mais ou menos artístico, por onde passeavam e refletiam os frades. Também serviam para fazer procissões, mas não é o caso. Era ,principalmente, área de meditação e de trânsito. Era o que se oferecia a quem havia atravessado seus umbrais. Reflexão para discernir entre o que se oferece ali dentro e o sentido de transição para uma outra forma de entender a vida e os seus interesses.
Se oferece, assim, um ano de experiência, onde o dominicano vai injetando pequenas doses de realismo. É o que chamamos de pré-noviciado. É “provar” e “comprovar” que a semente vocacional de quem se sente atraído pela Ordem tem pleno sentido no dia a dia, onde há a possibilidade de contrastar ideias e ideais, e ver a capacidade de lidar com as imperfeições dos demais, sem desanimar ante as diferenças, vendo que é possível, apesar de tudo, a formação de uma fraternidade com todos.
Um pré-noviciado é ensaiar um estilo de vida que, com o passar do tempo, poderá assumir compromissos mais definitivos. Portanto, é uma singela prova prática do que significa optar por uma vida dominicana. Não é um jogo, mas uma experiência baseada no estudo, na oração e na vida comunitária. Se vive imerso no que é a vida dominicana para que, com a vivência se possa se possa ir experimentando aos poucos este estilo de vida. Por isso mesmo a vida transcorre em uma comunidade real, com o ritmo dos frades, os quais analisam se o candidato se adapta de forma natural. Por isso o candidato é acompanhado por um grupo de frades, ainda que haja um responsável direto por ele. É um ano, só um ano e todo um ano, onde quem deseja fazer-se dominicano experimenta em que consiste esta vida. Não há disfarces, há realidade. Vai-se vivendo dia a dia a vida dominicana em seus diferentes aspectos. E é no dia a dia, com todos os obstáculos que o acompanham, onde se pode provar as riquezas e limitações dessa vida. Os demais te observam e percebem que seus sonhos têm sentido e te animam, ou, de outro modo, te mostram um outro caminho a ser seguido.

A decisão
Ao concluir o ano, há alguns que decidem seguir com entusiasmo o que provaram. Outros abandonam, por não acharem que este estilo de vida se encaixe com sua realidade. Do mesmo modo, é possível que se comunique ao candidato que, observado pelos outros frades, se chegou a conclusão de que a maneira dominicana de vida não é a melhor para que ele siga sua vocação. Esta decisão é tomada pelas duas partes (candidato e comunidade) e por isso se torna fundamental um constante diálogo, onde o dia a dia vá encontrando eco no interior e no exterior de ambas as partes.
Ao concluir o ano, se a decisão é firme e a vocação dominicana encontrou sentido, novamente há que atravessar a porta para sair e iniciar o noviciado, um ano de compromisso oficial. A experiência está concluída e os passos a serem dados têm uma orientação clara. Tendo o hábito como sinal de maior identidade, os dias se consagram em um ritmo plenamente dominicano. O espírito, a história, a vida dominicana convertem em definitivo uma vida que quer ser evangélica e evangelizadora. O jovem dominicano começa a dar passos de verdade pelo caminho que tantos homens e mulheres decidiram caminhar para se tornar parte do que é a Ordem de São Domingos.


*fr. Salustiano Mateos Gómara,OP, Valladolid, IDI, Janeiro de 2013.
Tradução: fr. Rafael Andrade, OP

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