VOCAÇÃO
E INTEGRAÇÃO HUMANA
Promoção
vocacional dominicana
O ser humano, na visão cristã, tem sua origem numa
bipolaridade que o caracteriza como um ser continuamente mutativo em meio aos
seus determinismos: divino e humano. É divino porque sua essência última é o
próprio Deus Amor que se encarnou a nós mesmos no seu Filho Jesus Cristo. Sua
divindade se dá pelo complexo fato de que é um mistério que abunda num corpo
material e biológico que embora tendo consciência dos seus próprios limites,
tem a possibilidade de esperar, desejar e dar saltos de qualidade para além das
suas próprias expectativas imediatas. É humano porque está na terra (“húmus”);
está condicionado por todas as possíveis variantes da espécie num corpo que
possui uma instintividade e materialidade própria. Ora se domina ora se deixa
dominar pelas vicissitudes da própria natureza. Sabe que pode ir além de si,
mas pode escolher ser conduzido pelo que parece ser evidente.
Diante desta simples e factual constatação, nos
perguntamos: sendo divino e humano, onde se encaixa a vocação? Qual é a sua
verdadeira vocação? Como ser feliz mesmo não sabendo onde deseja chegar? Porque
seguir a uma voz interior difícil de escutar e discernir quando há outras vozes
imediatas e mais sedutoras a se auscultar? Estas e outras interpelações sempre
invadem e assolam a intimidade de todos os que buscam um sentido para além do
imediatismo, presentificação e eternismo da cultura e da mentalidade atual.
Qual o melhor caminho a seguir e optar diante de milhares de possíveis fontes
de realização humana? No interior de todo ser humano sempre surgem indagações
que nos deixam irrequietos; esta é a nossa origem e chão; não podemos fugir a
isso como também a inúmeras outras cobranças das tensões que trazemos. Estas
são a possibilidade para amadurecermos e nos encaminharmos numa busca de
integração do que somos: divinos e humanos.
Inúmeras
teorias e idéias acerca do ser humano dissimuladas pela nossa cultura nos
deixam atordoados e confusos. O cristianismo desde suas primeiras reflexões
apenas diz que somos divino e humano e humano e divino fundidos num corpo e num
espírito. Difícil definirmos e mais difícil ainda projetarmos este para ideais
inalcançáveis. Talvez a teologia e a filosofia cristã nos dão pistas. O mais
importante que todas as teorias ou hipóteses é o nosso esforço autêntico em
integrar estas duas realidades distintas, mas interdependentes dentro de nós. A
grande vocação de todo ser humano se dá no lento e artístico processo de
integração dos inúmeros feixes de possibilidades que somos. Quando somos
sensíveis a este ardoroso movimento de unificação e “centramento” das origens
humanas iniciamos a integração humana necessária para se viver bem.
Além da integração destas fontes também temos que
paulatinamente compreendermos nossa vontade, inteligência, liberdade,
responsabilidade num plano maior. Queremos ser felizes e não percebemos que a
única e verdadeira felicidade é se conduzir por meio deste plano maior da nossa
vida: a vocação.
A vocação é esta maravilhosa arte de ser conduzido por
uma voz interior, uma única voz, em meio às sombras e luzes interiores que nos
identifica como humanos. Não um ser que apenas vive com luzes ou somente
sobrevive em meio às trevas. Somos as duas dimensões ao mesmo tempo. Até que
desejaríamos separar o joio do trigo para melhor viver, mas Jesus na parábola,
diz que ainda não é o momento da colheita; temos muito que semear, plantar e
cultivar. Semeemos, plantemos e cultivemos nossa vida por meio de caminhos bem
escolhidos; integremos também nossa divindade na humanidade e a humanidade na
divindade. Organizemos por dentro para fora o que unicamente damos conta.
Peçamos as luzes do Espírito Santo que com maestria nos auxilia neste
envolvente caminho de integração do que somos rumo à descoberta da nossa
verdadeira vocação.
Frei
André Boccato, OP
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