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sábado, 12 de março de 2011

Testemunho Vocacional de fr. Guilherme Diniz, OP

Descobri minha vocação há três anos, mais especificamente no primeiro domingo do advento de 2008, quando participei de um retiro na Escola Dominicana de Teologia (EDT), em São Paulo com o frei André Tavares. A pregação deste frade me fez refletir mais profundamente sobre a vocação dominicana. Naquela época, estava conhecendo o carisma da Ordem dos Pregadores e ainda não havia me decidido se iria de fato abraçá-lo. Naquele mesmo dia, passado algumas horas, pensei em não ingressar na Ordem, apenas me manteria ligado aos frades como leigo junto ao Movimento da Juventude Dominicana que havia visto nascer, pois não me achava digno de seguir a Cristo como religioso. Comuniquei ao frade pregador este meu sentimento, mas para o meu espanto ele me respondeu dizendo: “ninguém é digno de seguir a Cristo, além do mais, Deus chama os mais fracos”. Essas palavras reverteram a decisão que havia tomado. Já não podia negar o chamado de Deus e, além disso, me identificava com o carisma desta Ordem. Resolvi de uma vez que seria frade se a Graça assim me auxiliasse.

No ano seguinte, passei a frequentar os cursos de teologia na igreja São Domingos das Perdizes em São Paulo (um programa de extensão da EDT), e também a acolitar nas missas dominicais desta mesma igreja. Durante esse ano procurei estar presente o máximo possível de todos os acontecimentos ligados aos frades dominicanos. Os dois mais significativos foram a palestra de abertura dos cursos da São Domingos das Perdizes feita por frei Claude Geffré, importante teólogo dominicano da França; e o encontro dos provinciais da América Latina no convento Santo Alberto Magno em São Paulo. Esses eventos me ajudaram a conhecer o carisma dominicano por dentro, me relacionando com a Ordem pela convivência com os frades. Fato que me aproximou ainda mais da espiritualidade dominicana. Esses foram os elementos fundamentais que me ajudaram a integrar o carisma e a missão de São Domingos.

Escolhi a Ordem dos Pregadores pelo motivo que aparentemente parece ser o mais evidente: foi por causa do carisma de São Domingos e dos primeiros frades que imprimiram na história o ideal do fundador, em especial a busca pela verdade como fez Santo Tomás de Aquino. Além desse primeiro aspecto, me interessei pela pregação itinerante e seu fundamento espiritual. Um pregador tem ciência que o seu ofício se alicerça na contemplação e que não se limita apenas a si, mas se abre ao outro pela verbalização do fruto contemplado, daí a máxima do Doutor Angélico: “contemplar e levar o contemplado”. O pregador ao efetuar tal apostolado se volta para Deus e para o homem e por meio da pregação aproxima este Àquele. Por fim, também me cativou a necessidade de evangelizar nos limites geográficos e culturais da civilização atual, haja vista que missões em regiões onde a Igreja não se faz presentes são um convite ao pregador. Mas, preciso dizer, o que me fez mesmo escolher a Ordem Dominicana foi a dimensões da pregação da verdade que implica um projeto individual e comunitário de estudo e ensino que, nas palavras de Tomás de Aquino, promove a superação do pecado e da ignorância.

Mas nem tudo estava tão claro assim no início, também tive que discernir entre dominicanos e jesuítas. Durante aquele ano, período em que era vocacionado, estava entusiasmado com os exercícios espirituais de Santo Ignácio de Loyola que havia aprendido numa casa de retiro da Companhia de Jesus. E ainda, havia me crismado numa paróquia jesuíta e frequentava o Anchietanum, uma casa da juventude jesuíta, para conhecer mais o método inaciano de rezar a lectio divina. Havia feito amizades com eles e para complicar ainda mais a situação recebi uma proposta de um padre para ingressar na Companhia. Cheguei até a me encontrar com o responsável pelas vocações, entretanto não optei pela Companhia de Jesus. Um dos motivos que me levou a esse discernimento foi a diferença da estrutura de governo da Ordem dos Pregadores para a Companhia de Jesus. Os dominicanos, por exemplo, possuem uma organização democrática, estrutura essa que não se sustenta junto aos métodos jesuíticos. Além do mais, como havia dito ao frade que me acompanhou, eu já finquei raízes nos dominicanos.

Agora que sou noviço, começo a discernir os campos de atuação que têm as características do apostolado dominicano. Minha aspiração dentro da missão da Ordem e dos projetos da província do Brasil está entre os principais ofícios de um frade: o trabalho junto à formação. Meu projeto como frade segue pela mesma via que tantos outros ao longo da história desempenharam: contribuir com a formação nos conventos, ajudando-os a serem casas de pregação. Não se trata de nenhuma novidade, ao contrário, é um aspecto tradicional da Ordem. Um bom exemplo desse elan se encontra na origem do convento Saint Jacques, primeira comunidade de frades universitários de Paris em 1217. Sobre a entrada principal se podia ler o lema: “viver santamente, aprender e ensinar”.

A vida de estudo é marca fundamental da vocação dominicana, pois todo estudo está ligado ao desejo de contemplar a verdade. A busca pela verdade implica em responder os principais anseios humanos, todavia, essa tarefa que antigamente era o ofício do sábio, hoje quase caiu no esquecimento por causa da hegemonia da cultura moderna e pós-moderna. Entretanto, esse empreendimento ficou marcado na história da Ordem e da Igreja pela pesquisa teológica e filosófica. Exemplo disso se encontra na bela frase de Santo Alberto Magno, Doutor da Igreja: “Na suave harmonia de uma comunidade fraterna, procurar a verdade num estudo constante”. Esse campo de atuação onde os frades estão presentes a quase oito séculos se tornou para mim a identidade de minha vocação. Em linhas gerais, o que me impulsiona cada vez mais a consagrar-me a Deus à imagem de São Domingos é a identificação que tenho com o lema dominicano: veritas, a verdade; e com as palavras do Mestre Geral frei Bruno Cadoré que sabiamente definiu a Ordem dos Pregadores como “o ministério do diálogo de Deus com o homem”.

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